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(2.ª Parte) — Lá fomos nós para a Argentina. Participaram do 1.º Campeonato Sul Americano na divisão masculina a dona da casa, Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Brasil. Na feminina, somente Argentina, Venezuela e Brasil. Como eu era o contato entre os demais países por causa do Torneio das Américas, fui o chefe da delegação.
Como já disse, o único aventureiro do Brasil a usar uma bola fingertip fui eu, os outros todos com bolas convencionais. Os melhores jogadores eram os venezuelanos, que levaram quase todas as medalhas de ouro. O estilo mais bonito do Alvaro Galindo, o mais eficiente e campeão all events o baixinho Jaime Bracho.
Tive a honra de assinar a ata de fundação da Confederação Sul Americana como representante do Brasil.
Na solenidade de abertura ficamos com certo receio, pois o embaixador brasileiro estava presente. Será que vai dar problema? Não tínhamos autorização do CND (Conselho Nacional de Desportos), antigo órgão administrativo extinto em 1993. As federações e confederações não tinham autonomia para dar a última palavra em questões jurídicas sem o aval do CND. O órgão foi responsável pela regulação e regulamentação de todos os esportes no Brasil. Após sua extinção nenhum órgão assumiu suas funções. Mas deu tudo certo, ele veio nos felicitar e desejar boa sorte.
Na competição classificavam 12 para as semifinais e o único brasileiro que entrou foi o Felipe, jogou muito bem. O time masculino fez até demais, pois ficou com o bronze nos quintetos, chegando na frente da Colômbia, Peru e Equador. Venezuela e Argentina com ouro e prata. E, claro, as mulheres ganharam bronze no feminino. Não voltamos de mãos vazias. Primeiras medalhas internacionais oficiais ganhas pelo Brasil no boliche.
Os classificados para o Torneio das Américas (T of A) foram novamente o Walter Costa e o Toninho. Como o Toninho não quis ir, fomos WC, Milena, Cuca e eu. Relevante o fato que o WC furou uma bola de fingertip, uma Columbia Yellow Dot, mas não ia usar no torneio. Eu escondi a bola convencional dele e disse pra ele se virar. Meio a contragosto, ele pegou sua YD e acabou se dando bem, jogando fácil e se adaptando rápido. Isto faria uma grande diferença na carreira dele e no boliche brasileiro, certamente. A equipe brasileira ganhou, inclusive, o Troféu Most Improved, ou seja, o time que mais superou o próprio desempenho do ano anterior. Não é tão relevante, mas foi o primeiro troféu do Brasil em um T of A.
Dos anos 77 a 80 lembro pouco dos eventos, estive meio afastado por motivos de trabalho. Mas sei que o WC teve grande desempenho no T of A em 78. Ainda em 78 também seguimos a lista e fomos ao Campeonato Sul Americano no Peru, já vimos a foto da equipe. Não ganhamos medalha nenhuma, mas o Roberto Ferreira, o Broa, jogando seu back up, e eu, classificamos para as semifinais. Muitas cenas engraçadas, muita diversão, mas a verdade é que não evoluímos quase nada, ficamos atrás também dos peruanos e colombianos, além da Venezuela e Argentina que nos superaram em 76.
Lá conhecemos o Amleto Monacelli, tinha apenas 16 anos e já jogava na seleção venezuelana. Depois foi para a PBA (Professional Bowlers Association), entrou no Hall da Fama e hoje figura entre os 50 melhores PBA de todos os tempos.
Em 81, fomos ao Campeonato Sul Americano da Colômbia, somente a equipe masculina. WC, Bob Telles, Luiz Souza, Paulinho Berê, eu e o sexto creio que foi o Magalha. A escalação lógica de duplas não foi seguida e deixamos de conquistar a medalha de prata. Nos tercetos, quase, ficamos em 4.º com WC, Bob e Décio. O destaque do Brasil foi o WC, que se classificou para as semifinais e finais, mas acabou em 4.º (classificavam 5 para as finais Petersen). Apesar dos elogios dos nossos amigos estrangeiros, ainda estávamos bem atrás dos venezuelanos, colombianos, argentinos e peruanos. Estes tinham um time razoável, com destaque para o Mauricio Proaño. O melhor jogador do evento foi o então jovem Ruben Giraghossian, craque, e Gerady Pape, que ganhariam o T of A neste mesmo ano.
No final de 81 tivemos o 1.º Campeonato Brasileiro de Seleções, foi no Rio de Janeiro, com pin boys, no Meu Boliche. Os campeões foram o Lula e a Cuca. Não tenho nenhum registro deste campeonato, nem posso dizer nada porque eu estava viajando na época da realização. Que souber e quiser, pode me ajudar complementando meu texto. Foi outro grande progresso para nosso esporte, pois agora éramos oficialmente filiados ao CND (Conselho Nacional de Desportos).
Em 82, no T of A, pasmem muitos, ganhei o Troféu Friendship (rsrs). No início do ano, grande notícia! Ia ser construído em São Paulo no Shopping Morumbi, um boliche AMF. Walter Costa foi convidado para ser o administrador e se mudou para a capital paulista. Foi certamente uma grande alegria, porém nos primeiros anos não ajudou muito para evolução técnica. O boliche era condicionado por uma máquina Century sem a devida regulagem para oferecer boas condições de jogo. Acabamos jogando cinco anos em um boliche sempre reverso, onde girar a bola dificultava bastante as coisas. Despreparados, sem experiência e conhecimentos técnicos, WC, eu e outros jogadores ficávamos sem saber como sair desta situação, jogando bem fora do país e mal no Morumbi.
Em 82, no primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções, o Freire ganhou com uma bola convencional o all events. O campeão da final Petersen também usou convencional. Creio que fui o único jogador com bola fingertip entre os 8 semifinalistas. De uma certa forma, foi uma perda de tempo em relação a crescimento técnico para os brasileiros.
Para citar o meu próprio exemplo nesta fase: em 83 joguei mal o Campeonato Brasileiro de Seleções e Brasileiro Individual. Porém fiquei entre os 50 do mundial FIQ e estava indo bem na Copa AMF do México quando comecei a colocar sangue pelo nariz devido à altitude e não consegui manter o desempenho, realmente incomodava e falhei em passar no corte.
Em 84, novamente sem grandes destaques no Brasil, mas bom papel na Copa AMF e fiquei em 4.º no mundialito que fizeram na Austrália antes da Copa propriamente dita. Eu mesmo não entendia nada. Bom, eu morava no Rio, treinava no Boliche Pé de Vento, nem tinha como me adaptar.
Já o WC – faço a observação que não estou me comparando a ele como jogador, mas a dificuldade era parecida em relação a se destacar jogando no estilo moderno – também penava. Muito menos, pois treinava e jogava direto no Morumbi. A esta altura ele e eu éramos jogadores internacionalmente reconhecidos, ele muito mais. Se destacou na Copa AMF de 82 e nos T of A no início dos 80s, e em 85 ganhou duplas com o Veiga e o all events em 36 linhas, um feito dificílimo e talvez um dos maiores do boliche brasileiro.
Assim mesmo só foi ganhar um título nacional no Morumbi em 86, derrotando o Geraldo na final. E o melhor jogador da seleção brasileira no Sul Americano de 86 no Morumbi foi o Luizinho, que jogava com bola convencional. Sem desmerecer ninguém, por favor, eu ficava triste de ver que as campeãs brasileiras (Jandira, Cuca, Dirce e Tininha) jogavam com bolas convencionais. Até que a Marilza quebrou esta série. Ou seja, não estávamos aproveitando o novo boliche para evoluir e pensar em ganhar medalhas internacionais.
Nesta época eu já furava bolas no Rio e o Sato começou a furar em São Paulo, e trocamos várias experiências proveitosas para adaptar furadeiras de coluna para furar bolas. Em 83, durante a Copa AMF no México, também tive preciosas aulas de boliche e de furação de bolas com o Alfonso Rodriguez, grande amigo e mestre. Em 85, Marcio e eu nos juntamos para trazer o Alfonso para a Taça São Paulo e, apesar dele ter jogado o fino e ter ganhado disparado o all events, teve muita gente que jogava convencional que dizia que ela não era nada demais, que dava muita sorte. Nem muitos interessados em clínica com ele tivemos…
Neste mesmo ano o Alfonso foi campeão mundial na Copa AMF da Coréia.
Apesar do jogo não evoluir muito, esta foi uma época muito agradável no nosso boliche. Os jogos começavam às 10 horas, e as divisões de cima jogavam à tarde. Muito Karaokê, muita diversão, futebol no Caco’s Place, realmente era muito agradável participar dos torneios de boliche. Apesar de ter um só boliche, os eventos tinham mais participantes do que hoje.
E o Morumbi era um dos boliches mais caros do mundo, ainda assim as pessoas queriam participar.
Minha opinião é que, o que é bom, as pessoas pagam. É só ver em quanto tempo os ingressos do Paul McCartney se esgotaram. Hoje fazemos voto de pobreza e temos que jogar às 8 da manhã. Estes tempos mostram o que dá certo, mas nossos dirigentes, como todo brasileiro, tem memória curta.
Apesar do aparecimento das bolas de uretano em 83, pouca coisa mudou no Brasil. No mundo do boliche, elas causaram uma revolução, pois “cavavam” as pistas e tinham muito mais aderência que as bolas de borracha ou poliéster. Os escores subiram muito e chegou-se a jogar em short oil para desinflacionar os escores.
Conforme já escrevi, a indústria deveria ter aprendido a lição, mas não. As reativas depois vieram para causar um tremendo estrago no esporte. Mas deixa este assunto pra lá.
Para se defender nestas condições do antigo Morumbi, só jogando pela seta do meio, coisa que exigia muito treino e aprendizado e, claro, o WC, Caco e outros bons jogadores aprenderam a se virar. Nós cariocas, tínhamos que ir pra seta 4 também, mesmo sem estarmos acostumados, e não era tão fácil. Tanto demorou mas deu resultado que em 86 o campeão brasileiro individual foi o Caco e o campeão do Brasileiro de Seleções, conforme já falei, foi o WC.
Teve outros campeonatos Sul Americanos, mas não me classifiquei e não me lembro, mas tudo o que aconteceu nesta época está registrado no Jornal do Boliche.
Em 86 fui a Chicago e, levado pelo Mort Luby, dono do Bowlers Journal, fui a um curso na DBA, maior fábrica de detergentes e óleo para boliche da época. Seu dono, Remo Pichetti era considerado a maior autoridade no assunto. Lá aprendi que, devido ao tráfego alto no centro das pistas, tinha-se que compensar colocando um pouco mais de óleo no meio, mas tomando cuidado para evitar bloqueios. Falou também da importância da limpeza, não só do arremate, mas da pista inteira.
Voltando ao Brasil, na primeira vez que fui ao Morumbi, chamei o chefe de manutenção e pedi que ele limpasse a pista e regulei a Century conforme aprendi nos EUA. Ficou ótimo de jogar!!! O Lula, que testou a pista comigo, também não acreditava. Porém o WC se ofendeu porque eu não o consultei (sinceramente eu achava que ele ia até gostar da surpresa, acho que exagerou como gerente da casa) e resolveu não mudar nada. Bem, neste evento não mudou mas, para felicidade geral da nação, no torneio seguinte as pistas estavam boas de jogar e tivemos o primeiro 300 do Brasil com o Caco.
A partir daí, tudo mudou no nosso boliche. As bolas convencionais sumiram e os girudos começaram a dominar o ranking nacional. Quem assistiu o Campeonato Brasileiro de Seleções de 86 parecia estar em outro país comparado com o de 87. Mudaram os escores, os jogadores dominantes, o futuro do esporte.
O Campeonato Brasileiro de Seleções de 87 foi no recém inaugurado BH Bowling, em Belo Horizonte. E o Brasileiro individual de 87 foi no Bowlerama, também recém inaugurado.
Para se ter uma idéia, os quatro finalistas do Brasileiro Individual foram Almir, Walter, Décio e Nelson, e os quatro primeiros colocados no Bras de Seleções foram Walter, Nelson, Pedro e Décio. Nenhum convencional e nenhum paulista, acostumados a jogar no Morumbi. Coincidência ou mudança?
Graças a Deus uma mudança rumo a sermos campeões sul americanos e tantos outros feitos internacionais.
Acabei mudando para BH em 89, pois o BH Bowling, do qual eu era sócio, estava precisando de uma sacudida. Vim para ficar um ano e depois voltar para o Rio. Três meses depois, graças ao Tiago e à Simone, conheci a Helena e estou aqui até hoje. No final de 1990, tive rompimento dos ligamentos do braço e fiquei praticamente quatro anos sem poder jogar regularmente, bem que eu tentava, mas era impossível devido à dor.
Em 92 acabei me classificando para a seleção mineira, jogando uma vez por semana, e no Brasileiro de Seleções fui carregado pelo time, pois jogar 4 dias seguidos era impossível. Depois de muita fisioterapia e força de vontade, consegui voltar. É muito amor pelo esporte. Espero que muitos tenham esta mesma paixão.
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Décio Abreu, 60 anos, é economista, empresário, casado com Helena, pai do Guilherme, Daniel e Bernardo. Atualmente reside em Belo Horizonte, Minas Gerais.
No boliche já foi campeão carioca de equipes, clubes e individual, paulista de clubes, mineiro de clubes, duplas, tercetos e individual, brasileiro de tercetos, seleções, all events individual, sul americano. Conquistou várias medalhas regionais, nacionais e internacionais, detentor de 22 recordes brasileiros e 3 sul americanos (individuais e coletivos).
Foi Presidente do World Bowling Writers de 83 a 87, editor do Jornal do Boliche de 83 a 92, administrador do Boliche del Rey, Presidente da Federação Mineira de Boliche, cofundador pelo Brasil da Confederação Sul Americana de Boliche.
Obrigado, Bira, foram otimos momentos relembrando tantas coisas boas que o boliche me deu. Espero que outros tenham boas memorias como eu. Um abraco.
memorias como a sua muitos terao mas esse feito seu, poucos terao, parabens Decio, sempre em bom recordar…